quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Eleições e Conjuntura o papel do racismo

 


Estamos vivendo um processo de mudança na hegemonia cultural, tendo a China como polo central. Esta mudança no campo cultural determina mudanças em todos os demais setores. No setor econômico, o surgimento do BRICS, o bloco econômico tem mais de 40% da população mundial.

Por outro lado, o bloco que exerceu hegemonia por mais de 500 anos começa a ver seu modelo de dominação ser posto em questão. Com efeito, os europeus exerceram poder sobre quase todo o planeta com um modo de dominação baseado no extermínio de culturas, exclusão do outro, guerras como método de solução de conflitos, genocídio e permanente “purificação étnica” e um sistema econômica baseado na produção e usurpação da mais-valia do trabalhador.

Uma evidencia desta mudança é o caso de importantes países africanos. Estes estão se desalinhando financeira, econômica, e militarmente da Europa. A aproximação econômica com a China e militar com a Rússia é um importante foco de inquietação para o domínio ocidental. Mas os laços culturais continuam fortes. Com efeito, língua, religião e muitos valores continuam a imitar os valores dos invasores europeus.

A perda de hegemonia cultural está gerando uma violenta reação. Tanto no campo geopolítico, como no campo econômico. No primeiro, temos a guerra da Ucrânia e o massacre de Gaza como exemplos atuais. É importante destacar que a guerra da Ucrânia, pode ter como objetivo final atingir a China, encurralando-a entre uma Rússia europeizada e um Japão americanizado. A guerra contra a Palestina que tem como objetivo atingir o Irã, entendo o Hamas como “culpado inútil”.

Além da reação pela violência das armas, temos a reação econômica. O tarifaço dos Estados Unidos e a resistência dos europeus em aprovar o acordo com o Mercosul são demonstração desta violência. O bloqueio econômico da Rússia, Venezuela e Irã é a evidencia mais próxima desta reação e afeta profundamente o Brasil.

No Plano interno, a situação agrava-se em todas as esferas. A tentativa de intervenção dos americanos em nossa justiça atiçou o sentido de soberania e a unidade nacional, mesmo de setores conservadores. Mas a intervenção econômica, através do tarifaço atingiu todos os estados da união.

Na esfera econômica, o tímido crescimento é fruto da falta de criatividade do governo Lula, da impossibilidade de incluir os seguimentos historicamente excluídos – desde e antes da famigerada lei áurea - e da política de juros dos banqueiros com Galipo a frente. As altas taxas de juros refletem a desconfiança das elites econômicas, políticas e sociais em relação ao governo Lula, principalmente em razão do medo de algum avanço político no campo das relações raciais. 

            No campo político vê-se a tentativa de bloqueio do governo Lula pela “direita das emendas secreta” com o objetivo de impedir o avanço das políticas sociais. Este quadro torna um pouco mais difícil a vitória de Lula em 2026. Mas, com certeza os afro-brasileiros virão a seu socorro. Este é o fato que aterroriza os conservadores, na oposição e tranquiliza seus aliados, no governo. A tranquilidade destes decorre de um movimento negro sem representação e domesticados nos cargos públicos.

Os conservadores profundamente divididos buscam um herdeiro para o espolio do chefe da quadrilha golpista. O de São Paulo, centra-se na violência do capital com destaque para as privatizações. O de Goiás incentiva a violência das forças de repressão com a palavra de ordem “deixa a policia trabalhar”. 

Na arena estadual vê-se a continuidade de uma agenda com as mesmas características dos governos antes da vitória do bloco do bloco reformista. Com efeito, apoio ao agronegócio, a busca frenética pelo capital estrangeiro, a violência das forças de ordem marca esta continuidade. Os grandes projetos não saem do anuncio, entre eles a FIOL e a Ponte Salvador/Itaparica.

A coalisão no poder depois de quase vinte anos, afastou-se profundamente dos movimentos sociais, principalmente do movimento negro. Importantes quadros foram alçados a esfera da gestão, mas sem capacidade de dar resposta aos enseios que ajudaram a construir, quais sejam luta contra o racismo, luta contra o feminicídio, luta contra o machismo são três exemplos que gritam. Este quadro torna a reeleição do atual gestor muito complicada.

A tentativa de uma chapa hegemonizada por um só partido fende a colisão no poder há quase vinte anos. Esta fissura abre espaço para o avanço de uma alternativa à esquerda, isto porque as fissuras políticas são recheadas de descompromissos entre as partes cindidas.  Logo é possível os avanços. Principalmente nas disputas majoritárias, os atuais ocupante do senado não representam o povo baiano.

Os conservadores são os herdeiros dos responsáveis pelo atraso da Bahia. Os reformistas se apropriaram de seu modelo de dominação – exclusão, genocídio e limpeza étnica. Em razão disto, os conservadores sofrem para superar as dificuldades eleitorais no interior do Estado.  Assim, divididos e sem candidatos de expressão eleitoral, nas eleições majoritária. 

O PSOL pode ter um importante papel. Nas últimas eleições, o partido vem mostrando ser uma alternativa à esquerda. A eleição de Eliete Paraguaçu e Hamilton Assis reforça este avanço.

A chapa majoritária deve aprofundar a relação do partido com o movimento social. Neste sentido, nossa campanha deve resgatar nossas pautas históricas, quais sejam educação de base de qualidade referenciada na lei 10569/82, medicina preventiva, combate ao racismo, ao machismo e outras formas de dominação cultural, apoio à agricultura familiar, autonomia para uma universidade socialmente referenciada.

Na chapa para o senado, podemos eleger um senador caso a esquerda tenha juízo, escolhendo candidatos que tenham capilaridade e proximidade com o movimento social, principalmente o movimento negro. Esta chapa será o principal foco de avanço dada a atual composição, branca e machista que tenta se reeleger, mas está profundamente dividida.

A chapa proporcional deve atender o resgate e a solidariedade com os companheiros que estiveram na construção de todo este processo e hoje se sente abandonados. Os cálculos matemáticos falham sempre quando tentam resolver a questões políticas.

Neste ponto, nossa Corrente pode ter um papel importante no debate interno. Como somos uma das correntes interna que se centraliza na questão racial, cabe-nos buscar esta centralidade dentro do partido, indicando candidatos que tenham inserção na luta racial e uma capilaridade dentro do Estado.

sexta-feira, 25 de julho de 2025

Ação e reação: o inicio do fracasso

 Os anos setenta foram períodos de profunda instabilidade política. A ditatura civil/militar, chegada ao poder na década passado, tinha esgotado seu arsenal de crueldade – dizem os poetas: “de muito usada a faca já não corta” - e fora abandonada pelos seus aliados no exterior. A economia claudicava pelo esgotamento do modelo “Prafrente brasil” caracterizado pelo tripé do endividamento externo, capital estatal e o capital privado nacional. A desarmonia destes três agentes foi a senha para o fim do milagre.

Em consequência desta instabilidade diversos grupos recomeçaram a se organizar politicamente. Assim, conservadores e reformistas consolidaram em seus partidos em oposição aos militares, que não percebiam a ineficácia política, econômica e social de seus métodos. O “bipartidarismo”, camisa de forço imposta pelos ditadores, não cabia mais no jogo político. Os conservadores conseguiam manter sua unidade em razão das benesses que ainda recebiam do poder que ajudaram a usurpar. Os reformistas, rachados na base, nas paredes e no teto, travavam uma guerra intestina entre seus diversos seguimentos.

Impedidas de existirem enquanto partido e atuarem nas organizações classistas as exóticas ideologias eurocêntricas atuavam em diversos segmentos sociais. Infiltrados, seus militantes vestiam qualquer camisa para difundir tais exóticas teses. Assim, na clandestinidade podiam agir quase livremente.

A luta contra o racismo não estava excluída desta contenda. O surgimento do Ile Aiyê em 1974 fora o divisor de águas. Jovens negros do bairro mais afro-brasileiro do Brasil insurgiram-se contra a racismo na “terra do negro doutor”. Os representantes dos conservadores na mídia denunciam o “espetáculo do terror”. A cultura negra começa a abrir seu caminho como forma de luta política.

A reação dos reformistas não demorou a se manifestar. Seus satélites de forma revolucionaria, colocaram nas escadarias seu grito de protesto em uma luta que pretendia unificar todos os discriminados. Assim, nascia o MUCDR, uma reação politico/partidária paulista a insurgência politico/cultura de jovens baianos.

A ideia revolucionaria de unir todos os oprimidos se transformou no fiasco já na segunda reunião, quando os stalinistas reduziram a revolução num campo de refugiados negros ao transformar o MUCDR em Movimento Negro Contra a Discriminação Racial, o hoje MNU.

Estes dividiram o Movimento em fração estadual. Com efeito, não existe uma organização nacional e sim organizações estaduais submetidas a uma coordenação nacional sem poder político. Este movimento foi seguido de deslocamento de quadros para as seções mais estratégicas. Nestas seções os quadros atuavam tanto no partido quanto no movimento. Mas as decisões decisivas eram tomadas dentro do partido.

Podemos concluir, portanto, que, com a chegada do Ile Aiyê, a Cultura se colocava como propositora no processo político, a luta foi manipulada e metamorfoseada em objeto de promoção individual.

 

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Ideologia e oportunismo

 

As Elites culturais conservadoras e os liberais civilizados, estão em um insolúvel conflito com os irmãos metralhas e o “bob pai”.

O agrupamento oportunista que chamamos centrão não se pode se confundir com o que chamamos de intelectuais civilizados. Os primeiros estão somente através de vantagens pessoais, já o segundo é fruto da modernidade ocidental. O centrão fala em democracia e liberdade, mas observam as desigualdades entre os diversos seguimentos sociais. Já os segundo tem claramente a visão de que esta desigualdade é fruto de um projeto social. Portanto, existe uma distância quilométrica entre os dois.

O Centrão é um conjunto de políticos de diversos partidos das elites culturais que são financiados por grandes e pequenos empresários e por nós através desta excrecência que se chama fundo partidário, logo são instrumentos destes segmentos empresariais - conservadores, majoritariamente e reformistas. Lá no parlamento, aprovam os projetos que interessam a estes grupos. Evidentemente, alguns se corrompem, mais isto não me interessa, pois tenho uma concepção muito particular do que é corrupção. Nada mais é do que instrumento do “capitalismo periférico”.

Liberalismo, seja econômica, político e social é uma doutrina muito séria, assim como o cristianismo, comunismo, socialismo etc. Podemos e, devemos, discordar mas são doutrinas que determinaram a lógica do ocidente cristão. O problema é que a base filosófica destra doutrina é o iluminismo, este essencialmente racista. É isto que quero enfatizar nos liberais civilizados do terceiro mundo. Enfim, é isto que nós intelectuais insurgentes deveríamos estar aprofundando.

Se um ministro liberal “cai ou não cai”, ninguém pode saber. A instabilidade política no país é tão grande que qualquer coisa pode acontecer. Não existe análise política que possa prever a queda de um liberal terceiro-mundista. Esta possibilidade só existe quando a analise entra no campo ético ou moral.

Em resumo, oportunismo político e liberalismo civilizados são frutos da mesma árvore, mas o primeiro já nasce podre.

terça-feira, 11 de março de 2025

Aula do dia 10 de março de 25 de Contemporânea I – Introdução Geral

 Aula do dia 10 de março de 25 de Contemporânea I – Introdução Geral

 

Sala

SEG:: UEFS, MÓDULO 3, Sala PAT20

 

Horário

21:00 – 23:00

 

Primeira Parte – Exposição oral

 

Engessamento dos fatores de produção

 

Lei da Terra e Lei Aurea de 1888

 

Do meado para o fim do século 19, as elites tornam o Brasil inviável ao editar duas leis que engessam dois dos três fatores vitais de processo econômico. As Lei da terra de 1850 e a Lei Aurea de 1888 inviabilizam qualquer projeto político e econômico. Entretanto, construíram os marcos iniciais da hegemonia cultural cristã/ocidental

 

A lei da terra vai estabelecer uma espécie de “esbulho possessório”, transformando os legítimos proprietários em ocupantes ilegais. Transformando em ilegal a população de africanos e seus descendentes que ocupavam setenta e cinco por cento do território brasileiro.

 

Já a Lei Aurea vai legalizar e dar cunho moral ao regime violência da negação da condição humana de milhões de indivíduos. Sem a devida reparação dos crimes cometidos, os descendentes dos povos bárbaros vão transformar os legítimos construtores do país em brasileiros de segunda classe a margem das leis.

 

Estes dois instrumentos foi uma opção consciente de construção da hegemonia cultural do pensamento judaico/crista. Qual seja, a exclusão do outro de qualquer possibilidade de existência cultural.

 

A República surgida pelo primeiro golpe militar vai aprimorar e impedir toda tentativa de correção. Com efeito, a cúpula militar interpretando os interesses das elites paulistas desfecharam um golpe punitiva contra o império. Inaugurando, desta forma, o papel de protetor dos privilégios das elites culturais.

 

Segunda Parte

Leitura dos Textos:

 

Lei da Terra

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l0601-1850.htm

 

Lei Áurea

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/lim3353.htm

sábado, 1 de março de 2025

Cultura, Poder e Transformação: uma breve introdução


 

É preciso entender o cerco político e econômico aos produtores e operadores de cultura de matriz africana. Este cerco é operado pelas lideranças do “indentitarismo de classe”, estejam na esfera reformista ou na esfera conservadora da elite cultural.

São raros a ocupar espaços no poder e quando ocupam são em pastas sem poder e de recursos escassos. Ficam na segunda etapa quando se trata de distribuição de recursos. Sambistas, capoeiristas, blocos afros e afoxés, dentre muito são tratados como se fossem parias em nosso país e, principalmente na Bahia. Esta compreensão só será possível se aceitarmos a centralidade da cultura na determinacao das contradições de todas as sociedades.

A “Cultura é uma das instituições que modelam o mercado”. Mercado não é apenas, como imagina uma das facções dos herdeiros do Iluminismo, o espaço de relações de troca. Mercados são as arenas constitutivas da sociedade. Outras instituições como as políticas, as econômicas e as sociais também modelam o mercado, mas em nosso caso, em escala menor. São os valores, as tradições que criam o sentimento de pertencimento a um coletivo, isto é criam a cidadania e seu produto o cidadão. Sem a construção da cidadania não existe possiblidade de acabar com esta exclusão. Portanto, a cultura é o centro.

Dois brilhantes intelectuais, não por acaso, baianos, colocam de forma magistral a questão da cidadania. Caetano Veloso, no Pelourinho observa a violência dos agentes de repressão do Estado, e declara, em “Haiti”: “ninguém é cidadão”. Milton Santos argumenta a inexistência da cidadania, negando a metade desta, construindo assim uma cidadania incompleta. Portanto, é a cidadania o foco principal da centralidade da cultura. 

Ainda, mais dois intelectuais negros, Manuel Querino e Stuart Hall vão nos dar os passos a seguir. Querino foi um magistral pesquisador da cultura afro-brasileira. Este baiano de Santo Amaro teve uma marcante história política, tanto a frente dos sindicatos, como no parlamento de Salvador. Querino entendeu a centralidade da cultura, na militância sindical, artística e política/eleitoral. Em consequência, mergulhou na profundidade da cultura africana e afro-brasileira. 

Stuart Hall percebeu esta mesma centralidade na militância junto aos imigrantes na Inglaterra e na sua condição de inglês de segunda categoria. Em seguida, construiu um saber teórico, introduzindo esta centralidade nas academias. Hall, nascido em Kingston, foi um intelectual completo. Militança, academia e produção intelectual. Fez uma insurgente carreira intelectual na Inglaterra. Ao final desta carreira, se aprofundou nas artes. 

Os bilhões de reais que serão gerados no carnaval dizem bem da necessidade de darmos atenção ao que afirmam estes intelectuais. Eles nos dão as respostas de quem e porque são os mesmos que se apropriam da maior e melhor parte destes recursos. A reprodução cultural é o foco da distribuição destes recursos. A maioria dos artistas e operadores ficam com as migalhas e com a humilhação. 

Na situação quase extrema, encontramos os “cordeiros”. Por alguns trocados e uma alimentação sem qualidade, eles garantem a tranquilidade dos foliões. Da denominação – cordeiros – à forma de humilhação, perdem apenas para os catadores dos restos dos foliões (latinhas, garrafas etc.). Esta lógica faz reproduzir a miséria da maioria dos operadores. Estes estão sem a possibilidade fazer valer seus direitos.  Estamos sem representantes.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Cultura da paralisia

 

O associativismo é uma atividade nobre nas sociedades modernas. É um ato de voluntarismo cidadã, implicando no compromisso do indivíduo com causas que lhes são caras. Em um país como o brasil, onde a ausência de cidadania é notória, o associativismo é sempre dificultado e, algumas vezes, punido.

Em alguns países o associativismo é incentivado e muitas vezes premiado. Na França, por exemplo, existe a Lei 1901, comemorada em 2001 cem anos até com menção presidencial. Evidentemente, são países nos quais a cidadania é a razão do Estado. Em casos como o do Brasil, onde, como diz o poeta “ninguém é cidadão”, esta atividade é comparada a uma atividade empresarial, devendo ser registra em cartório.

Esta condição cria responsabilidades cartoriais, fiscais, tributárias que recaem sobre os responsáveis, aqueles que constam nos registros cartoriais como responsáveis, principalmente seu dirigente máximo. Por isto, cabe a este último as decisões que podem fazer avançar os objetivos da associação. 

Os objetivos de uma associação contrariam interesses de muitos outras atores e organizações. Dentre muitas associações contrariadas destacamos os Estados autoritários e aqueles hegemonizado pela cultura de ódio ao “Outro”. Para o Estado as dificuldades são colocadas pelos seus agentes públicos, em nosso caso os cartórios e suas exigências absurdas. Vimos no passado, como o Estado agia com violência para impedir o funcionamento das religiões de matriz africana.

Para outros agentes, as dificuldades de funcionamento são colocadas através de expedientes diversos. Por exemplo, uma pratica bastante comum é a desqualificação dos “adversários” internos. A tentativa de marginalização destes adversários, atribuindo-lhes interesses ideológicos ilegítimos. 

Os interesses ideológicos legítimos de atores são muitas vezes camuflados em atitudes condenáveis e quase sempre inconfessáveis. Por exemplo, o caso de organizações do Movimento Negro, onde militantes de organizações marxistas-stalinistas atuavam desfigurando-as. Estas pessoas são contra determinadas ações em razão de seus interesses conflitarem com os interesses destas atividades por isso fazem tudo que podem fazer para evitar a ação destas organizações.

As organizações negras tradicionais, principalmente as religiosas e as culturais trazem um modelo centralizado na autoridade da liderança. Aquelas que tentam copiar o modelo judaico/cristão sofrem com mais frequência as consequências danosas dos interesses conflitantes inconfessáveis. Faz-se urgente um profundo debate da intelectualidade negra a respeito deste paradoxo. 

Portanto, é fundamental que nós intelectuais negros enfrentemos o desafio dos Estados como acima caracterizados e, acima de tudo, explicitando as contradições ideológicas dentro nossas organizações. Em resumo, sem vencermos estes dois obstáculos nossas organizações ficaram eternamente paralisadas.

sábado, 25 de janeiro de 2025

A Desconstrução do “Outro”

 

Quem te viu que te vê!

“Quem te viu, que te vê”! Disse-me a colega ao me vê dirigindo uma reunião de intelectuais negros militantes na UFBA. Ele me viu dirigindo o Movimento Negro Unificado de Salvador no início dos anos noventa.

 

Quem te viu!

Em que mudei na visão da colega? Não sei!

O que mudou para tal questão? Vejamos a seguir:

Quem me viu era quem pagava as contas do MNU de 1989 a 1995, enquanto Coordenador Municipal;

Quem me viu era quem possibilitava a participação dos militantes de Salvador nos Congressos nacionais do MNU;

Quem me viu era quem participava da “Coordenação das candidaturas do MNU”;

Quem me viu era quem preparava tinta das 14 às 18, depois de sair da Receita Federal;

Quem me viu era quem participava das reuniões das 19 há as meias noites depois, claro, de pagar o jantar dos militantes das 18 às 19;

Quem me viu era quem pichava muro das 1h às 4hs;

Quem me viu foi quem me via limpar o carro de tinta das 4 às 05 há. para que pudesse chegar as oito na Receita Federal.

 

“Quem te vê!” 

Quem me vê?

Quem me vê é que participa da fundação da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros – ABPN em Recife;

Quem me vê é que participa da fundação da Associação Pesquisadores Negros – APNB

Quem me vê é quem participa da diretoria da APNB desde a sua fundação;

Quem me vê é quem acompanha meus processos acadêmicos discutindo e propondo soluções contra o racismo.

 

A construção do “Outro”

As pessoas não olham para você e sim para a imagem que fazem de você. Foi o caso desta colega, que me via através de narrativa de militantes que tentam desconstruir o “Outro” e reconstruí-lo como inimigo.